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MI CONVENCIÓN



JOSÉ MARIA CEREZO "TROVATA"

Conselheiro da TUDI em Espanha


II CONVENCION TUDI


GUIMARAES-SANTIAGO DE COMPOSTELA, 2023



“Aquí Nasceu Portugal” lê-se na inscrição de uma das torres da muralha de Guimarães, e desde 8 de setembro de 2023, está gravada na minha alma sem precisar de agulha ou tinta. A fundação da cidade é atribuída a um nobre, vassalo do Rei Alfonso III de Astúrias, Vimara Pérez, que deu nome à vila, originalmente chamada Vimaranes. Desde então, a história tem sido escrita com essas referências, mas após a II Convenção TUDI, o nome Guimarães ficará indissociavelmente ligado a Paulo Gonçalves, Praça de Oliveira, Medieval e Catarina.

Participar na II Convenção TUDI permitiu-me conhecer pessoalmente aqueles que até então eram apenas pequenas imagens no meu telemóvel. As minhas expetativas sobre como seria conviver durante 9 dias com pessoas de 10 países diferentes foram largamente superadas pelo que aconteceu. Nunca houve uma voz mais alta que outra num grupo humano composto por 50 tunos decanos, 33 esposas e um jovem "Paulinho" que todos os participantes adotaram com carinho como um "filho de todos". Todos os participantes secretamente envolveram-se num concurso para ver quem era mais amável, educado, simpático e mais complacente que o outro, sem prémio para além de um sorriso amigo. Todos foram premiados; ninguém ficou sem troféu.


Hoje, as memórias competem entre si para serem as mais queridas, tornando impossível escolher a melhor. Assim, mencionarei apenas algumas, para não aborrecer com risos, refeições partilhadas, visitas e cenários partilhados: um grande punhado de experiências felizes.


Durante a nossa viagem pelo Douro, aprendemos com Miguel Falla que os líquidos devem ser lançados a sotavento se não quisermos correr o risco de tê-los de volta nos nossos rostos como uma suave cortina de água. Além disso, o colombiano também nos elucidou sobre onde expelir flatulências no navio. Devemos explicar que a origem do que chamamos flatulência (para ser educado) ou peidos (para ser menos educado, que são alguns dos nomes que lhes dão em diferentes lugares) está, em parte, no ar que ingerimos ao engolir saliva, alimentos ou bebidas, nos gases que se formam quando os alimentos reagem com os ácidos do estômago ou com os fluidos do intestino e, fundamentalmente, porque, ao alimentar as bactérias que abundam nos nossos intestinos, elas nos retribuem com gases abundantes e, por vezes, pouco recomendáveis para narizes delicados. Nesta ocasião, os ácidos estomacais dos passageiros eram feitos com rum colombiano, mezcal de Tijuana e chocolates e doces feitos com receitas secretas aztecas, e, inexplicavelmente, todos a bordo sobreviveram à sua ingestão. O do Vice-Reino da Nova Granada foi taxativo a esse respeito: estes gases serão sempre expelidos a popa.


O português Nuno Barbosa, que pela aparência e apelido bem poderia ter sido uma personagem do filme Piratas das Caraíbas, tranquilizou-nos quando percebeu que todos os passageiros olhavam para cima ao passar debaixo da Ponte de São João (uma das seis pontes que ligam o Porto a Villanova de Gaia, construídas com o propósito de fornecer uma ligação ferroviária que substituísse a do Ponte Maria Pia), dizendo que esta estava equipada com um sistema antivuelco que evitaria que o comboio caísse no rio e aterrissasse bem em cima do nosso barco. Esta notícia acalmou os passageiros, e alguns esfíncteres relaxaram.

Quando era criança, o meu pai levava-me frequentemente ao maior espetáculo do mundo: o circo. Entre todos os artistas, os domadores de animais chamavam sempre a minha atenção: às vezes leões, outras elefantes e por vezes tigres. Lembro-me daquele homem enjaulado com as feras, que ganhava o respeito delas com uma voz que por vezes mal ultrapassava a intensidade de um sussurro. É bem sabido que os animais têm capacidades auditivas muito diferentes, percebendo frequências inaudíveis para os humanos. As feras executavam o exercício após o breve estalar do chicote no ar que ele trazia sempre na mão.


Estas memórias vinham à minha mente durante cada ensaio que fazíamos. Uma vez colocados no palco do teatro, emergia entre o burburinho uma figura apolínea que, balançando o ar com as mãos, dizia num sussurro: "ouçam-me e não toquem!. O Mambo é um domador, não de feras, mas de animais racionais que substitui o chicote por um golpe seco de cordas na sua bandurra. Foi capaz de extrair o melhor de nós para nos conjugar num palco. Se ele tivesse estado lá naquela ocasião fatídica, teria dirigido a orquestra do Titanic e com certeza ninguém teria saltado borda fora em pânico. No palco era um prazer estar ao seu lado; ele transmitia tanta segurança ao coletivo que ninguém duvidava de que as músicas a interpretar sairiam bem, e saíram mesmo.


Largo da Oliveira é a praça mais importante e movimentada do centro histórico de Guimarães; algo semelhante ao que poderíamos chamar de "Plaza Mayor". Está ligada à Praça de Santiago através das arcadas do edifício dos Antigos Paços do Concelho e teve como referência monumental recente o Padrão do Salado, erguido no século XIV por iniciativa de Alfonso IV de Portugal para comemorar a vitória na Batalha do Salado em 1340. Tudo ao redor da praça girava em torno deste monumento nacional, até que chegou o senhor do coco miraculoso.


Aquele gigante, alto como um moinho de vento castelhano, nativo da ilha de São João Batista, que o Almirante do Mar Oceano chamou de Porto Rico quando a descobriu em sua segunda viagem, ironicamente respondia pelo nome de Pulgarcito, mas bem poderia ter sido batizado como Sansão. Ao entardecer, com as últimas luzes do dia, pessoas de todas as origens se reuniam na praça na esperança de beber aquela ambrosia que o gigante segurava no colo e que ele distribuía de forma prodigiosa, já que nunca se esgotava. Rapidamente correram rumores pelo reino português de que o taíno realizava milagres untando o elixir no peito dos peregrinos, curando males e afugentando tristezas com ele, de tal forma que, a partir da sua estadia, a praça passou a ser conhecida como "Praça do menino do coco miraculoso".


Catarina, na altura dona da Pousada Medieval, presenteou-o com a receita do sumo com a intenção de que o boriqua nunca ficasse sem o néctar ao regressar àquela terra de bravos senhores.


Guardarei cuidadosamente as memórias da II Convenção TUDI nas gavetas da minha memória; serão o remédio que usarei quando precisar refugiar-me nos melhores momentos da minha vida para combater outros que não serão tão amigáveis. Quando chegar a hora, lembrar-me-ei da camaradagem dos meus Tunos Decanos da Ibero-América e das suas damas, que, fazendo amizade entre si, conseguiram estreitar ainda mais os nossos laços fraternais. Desfilarão nos meus pensamentos os sotaques das pessoas do país mais estreito da Terra enquanto sigo a cantar a caminho do Chile, o sonho divino dos homens do Canadá porque adormeceu na Catedral, tal como aconteceu com Tula no seu quarto (Deus já o perdoou), as melodias galaico-portuguesas dos troianos e estudantes portugueses, as fragrâncias de mezcal e tequila mexicanos, a figura do homem que deveria coroar todos os bolos de casamento criando um estilo de pastelaria chamado bolo Humberta, os "Ajai" das cumbias colombianas entoados enquanto, de forma surpreendente ao mesmo tempo, a flauta toca, as estrelas das bandeiras americanas que agora substituo por pandeiros, as pessoas da ilha grande de passagem tranquila e o sotaque estranho dos habitantes da Flandres.



O TUDI enriqueceu o meu "cunhecimentu", tornando-o mais "bunitu".

Até para o ano, nas Índias Ocidentais!



¡NO NI NÁ¡

 
 
 

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